quarta-feira, 27 de julho de 2011

Piegas
















Todos vão lhe dizer que tudo vai ficar bem.
 Mas apenas uma pessoa fará com que realmente fique."

É que vai chegar o inverno e eu vou sentir um frio inseno, eu sempre sinto.
E vou precisar que você me abrace e me distraia contando histórias de folhas que caíram no outono passado mas que o vento fez voltar por estarem despencando antes da hora.

É que eu sou insistente e chata e você vai ter       que me dizer que me ama mesmo assim, porque se você me pedir menos eu vou ficar confusa, porque não sei não dizer tudo isso sem sentir, e se digo, se sinto, como fazer pra ser avesso?
Assim do meu jeito distraída, rabugenta, geniosa e piegas eu vou querer estar presente em seu dia-a-dia, mas não vou perturbar muito, prometo.
É que você vai ter que me mandar desacelerar a moto na curva porque eu me encanto com o vento batendo no rosto e quero mais, sempre mais, curva ou reta, quero voar. E você vai precisar puxar meu pé pro chão, ser minha âncora, e também vai ter que me dar asas nos dias nublados e chuvosos em que eu acordar meio melancólica e londrina.
Você vai ter muito trabalho comigo, muito. Pense bem.
Porque se o amor é objeto, existe devolução, mas existe aquele vínculo que se cria quando se toca, se pede pra tocar, existe os dois pedaços que eram e passaram a ser por algum tempo uma coisa só no encontro das duas peles.
Eu sou terrível, você vai ver isso na primeira semana porque quisera, mas não sei esconder meus defeitos de estimação.
O que sei ser de bom você vai ter que notar sozinho, porque dizem por aí não cabe da gente ficar esfregando as qualidades. 
É que vai ter sol e vou querer sua companhia na roda gigante amor, porque algumas giram e giram e eu fico tonta, mas gosto da sensação de medo de não ter mais os pés no chão.
Eu sou tão complexa, mas eu simplifico pra você: se quiser me amar, que venha e me ame e que permita. Que quando me faltar sanidade você se enlouqueça e vá pular poças comigo, vá rir de estrelas cadentes imaginadas e fazer pedidos infantis.
Que as nossas infâncias coincidam em plena esquina e a gente se permita o sorvete em dia frio, o banho de chuva mesmo resfriado, a falta de juízo que faz acontecer os melhores momentos da vida.
É que tenho cicatrizes. Você também tem.
Se eu pudesse te escolhia de berço assim você me conheceria tanto que não haveria espaço pro estranhamento, para mágoas, mas não me foi possível, não é sempre possível realizar os meus sonhos mais diversos.
Envolvem você, quase todos.
Eu vou ter pesadelos, medo da solidão, saudade que não é permitida matar, dias ruins por meses, sem contar o excesso sono que você pode prever.
Mas é que eu vou ter tanta coisa e matéria pra te fazer sorrir se você quiser, não ensaiado, não não. Eu vou querer te fazer sorrir, eu vou querer sorrir com você, vou querer que você sorria pra sempre.
É que eu vou te pedir proteção e até cobrar, acaba acontecendo, vez ou outra. Aquele mecanismo que faz com que esqueçamos o que não nos faz tão bem lembrar não funciona direito na minha cabeça, deve ter sido substituído pelos outros milhares de pensamentos abstratos feito quadros cubistas, cheios de cores e pontas.
Só psicopatas fazem sofrer de propósito e veja você, não tenho vocação pra maldade.
Eu vou errar tantas vezes que por fim você pode se cansar de tantas falhas, mas eu sou imperfeita de natureza, não que isso me conforme. 
É que eu vou precisar que você me ensine a voar. Porque tem dias que minhas asas parecem atrofiadas de tanto pouso forçado e você tem cheiro de vento, liberdade, amor.
E é que eu amo você tenho uma dificuldade imortal de ver você se distanciar, então, dê a mão pra dormir, por mais difícil que seja pra mim, não se distâncie nem nessa hora.
Dê o sorriso antes de partir.
Dê um beijo de boa noite e me diga que ficará, pra sempre.Fique, por amor.

Ao meu grande amor.

domingo, 15 de maio de 2011

Imprescindível

Foi em uma noite de show, como todas as outras em que toco, que avistei aqueles profundos olhos. O modo como eles me observavam, me invadiam e, arrisco dizer, me ultrapassavam, era algo silencioso, perturbador e irresistível. Pode parecer presunção minha, mas aquele jeito de mulher e sorriso de menina, ao mesmo tempo enigmático e transparente, deixava nítido que o porto de seus sonhos era o meu olhar. E eu sorria ... sorria cada vez que ela desarmava-se e deixava transparecer  em seus olhos o desespero, a angustiante força que fazia para esconder de mim e de todos o quanto me amava. Seu olhar era tão ingênuo que intimidava e inibia meu espírito cafajeste. O modo como ela sorria e abaixava a cabeça, tão docemente, toda vez que seu olhar em minha direção era flagrado por mim , me tornava totalmente incapaz de qualquer artimanha para conquistá-la. Como eu não sei, mas ela me neutralizava.
E assim a noite tomou seu rumo ... ela se comportando discretamente, fazendo o possível para não ser notada, mas mal sabia, que qualquer esforço para tal seria em vão, pois eram seus olhos que atraiam a atenção. A cada música que se passava, seus olhares se tornavam mais intensos e apaixonantes, só que o compromisso me prendia longe dele e a única coisa que restava era torcer para ela permanecer até o show acabar.Porém não ocorreu, faltando poucas músicas para encerrar o repertório, ela olhou o relógio e viu que não dava mais tempo. Então com um olhar diferente de todos que ela havia lançado, de mulher decidida e determinada, ela foi embora deixando para trás todo o topor que ela me despertou e levando consigo todo o amor que seus olhares e gestos demonstravam sentir por mim. E sempre foi assim, ela nunca precisou dizer uma só palavra para que eu tivesse certeza do amor que sentia e que eu nunca seria capaz de retribuir. Com toda a honestidade acho que ela não se importava com isso, ela me amava e só não queria que eu soubesse disso. Doce ilusão ...

* Pauta para o bloinquês
67ª edição conto-história

terça-feira, 3 de maio de 2011

Epifania

Fragmentos disso que chamamos de "minha vida".

Há alguns anos. Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos.

Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania.

* Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 31 de março de 2011

Entre princípios e desejos

A., queria te contar que sou melhor escrevendo do que falando e que do nada atropelo minhas palavras e idéias, por que meu pensamento é muito rápido e não consegue trabalhar a base de conta gotas, mas sei lá, fico na minha. Queria te ver e falar uma série de coisas, que não saberia nem mesmo ao certo por que lhe diria, mas sinto que falaria. Apenas falaria. E seria estranho. Nessa incerteza cheia de certezas de querer te dizer, mostrar ou escrever o que tem rolado aqui dentro, apenas algo me vem em mente, um texto. Em constante frequência questionamentos sobre a validez que você dará a esse texto vem a minha mente, que imediatamente substitui a dúvida pela necessidade.

Como você diz ter a memória de uma formiga, me obrigo a recordar-te do dia em que meus incontroláveis impulsos tagarelavam sobre meus sonhos, ouso dizer objetivos, e eu lhe escrevi que só desisto de algo que quero, quando consigo. Não me recordo quanto tempo após, tivemos uma outra conversa a respeito de algo que você afirmava ser, digamos, o ponto de convergência que nos afastaria. E, de fato, afastou. Durante um tempo após, não mantivemos qualquer tipo de contato. E sabe o que é mais estranho ? Foi nesse meio tempo que eu descobri que queria você, um querer que independe de pontos de convergência, mas que ao mesmo tempo é limitado.Eu quero um dia, ao menos, inteiro em que eu possa estar com você, sem muita pressa. Meu egoísmo pede por um dia que eu possa eternizar e chamar de meu.

Sim, esse é mais um dos meus objetivos que eu não desisto. Você deve estar achando presunção minha, ou até mesmo desejo, maluquice, criancisse, vontade, mas defina como quiser. A definição é sua, o querer é meu e eu só preciso que você realize. Talvez esse seja o único detalhe desse desejo que me proporciona incomodo. O detalhe que explicita o estranho fato que pela 1ª vez meu reinante orgulho foi posto em 2º plano, como se algo me impulsionasse a esquecê-lo em prol da exposição de uma vontade mais forte. Creio que isso seja psique, sei lá, de uma futura psicóloga. Você se mostra enigmático demais e isso me instiga. Me instiga a querer saber o que se esconder por detrás do brilho incompleto de seus olhos, o que falta para torná-lo pleno. Pode parecer um equívoco, mas é como eu o vejo ... e quero conseguir ver além desse prisma.

Voltando aos questionamentos, eu realmente não sei o que me leva a publicar esse texto, mas o motivo que me levou a escrevê-lo foi o excesso de palavras que em mim transbordavam. E antes que você pergunte porque eu não falei cara-a-cara, te digo: é como diz aquela música, o que falta é coragem. E a propósito as palavras são melhores explicitadas por mim quando escritas, do que quando faladas.

( Créditos à : 
http://umcaradesampa.blogspot.com/ )

sexta-feira, 11 de março de 2011

Um amor de verão

               Ela sempre sentiu que faltava algo. 



Se conheceram em um típico dia de verão, onde o sol apino embeleza ainda mais o encantamento nítido naquela troca de olhares. Foram dias de aventuras, de descobertas, de sorrisos e encantos. Quem avistava aquele casal poderia jurar que foram feitos um para o outro, mas o inquietante coração de menina não se enganava, ela sabia que faltava alguma coisa. Os momentos eram bons, a companhia viciante, porém não eram completos, não eram suficientes, eram apenas tudo que tinha, tudo que acreditava apesar dos pesares. Mas como todo amor de verão, chegou a hora da despedida e junto a ela a promessa de trocarem, sempre cartas com forma de, mesmo distantes, estarem conectados.E assim foi cumprida, a doce menina, quase diariamente mandava as prometidas cartas, porém sem obter reposta  ela começava a se questionar se o que tanto faltava era a reciprocidade. Então quando suas esperanças iam se estinguindo, a resposta chegou e junto a ela o tal pedaço que faltava. A carta dizia:
        
Admirada Julie,
(in)felizmente suas cartas foram destinadas ao endereço errado, eu não sou o remetente para o qual você destina tanta dedicação e afeto. Nem ao menos sei como te ajudar a encontrá-lo. Meu nome é Estevan e sou completamente apaixonado pelo fascínio que exala de cada palavra da doce Julie, essa poetisa menina que me devolveu a esperança que eu havia perdido, que me devolveu a fé através de cartas entregues por engano. Não sei qual sentimento habita em você neste instante, se sentes mágoa, angústia por não poder manter contato com seu amor de verão, se o que predomina é a curiosidade de conhecer quem aqui te escreve ou um misto do dois. Mas a única certeza que tenho é que eu não posso lhe esclarecer o motivo pelo qual nossas vidas se cruzaram desta maneira, apenas posso lhe dar motivos para permitir que eu seja o alvo de todo seu amor.

                                                            Inexplicável e inevitávelmente seu admirador, Estevan.

Segundos depois de lê-la a campainha toca e Julie, ainda perplexa, caminha até a porta, que ao abrir revela um lindo homem que diz: Permita-me apresentar. Sou o Estevan, o homem disposto a completar tudo aquilo que lhe falta. Aquela menina sempre reclamou das peças que a vida pregava nela, sem nunca imaginar que seria grata a elas para o resto da vida. E hoje ela entende o que faltava, aquele amor de verão representou uma ponte, para tudo o que a faria feliz.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

In(evitável)

Em um certo dia, quando as melodias soavam doces e singelas,  a menina foi surpreendida pelo toque protetor e pela emoção de sua voz preferida, a voz que tantas vezes embalou sua noites durante seus sonhos. Como se não fosse real, ele estava ali para ela, por ela e nada podia mudar isso. As palavras que saiam pela boca que, por tantas vezes seus olhos adimiraram, pareciam perfeitos arranjos, milimetricamente feitos para agradar seus ouvidos e acalentar seu, momentaneamente, frio coração. Sua mente não era capaz de organizar uma frase sequer, logo sua boca nada conseguia dizer. Mas por seus olhos caiam lágrimas repletas de sentido, deixando explítico todo amor e felicidade que ela pensou ser
negada. Em instantes, a frágil menina, caminhou com a leveza de uma pétala levada por um forte vento, não perdeu o encanto, mas mostrou que tinha pressa. Ela caminhou em direção ao lugar para o qual ela foi destinada ao nascer, aqueles braços, suas peles se tocaram provocando nela a sensação de topor, de alívio. E ele a abraçou como se fosse a última coisa que faria na vida, com a intensidade de quem esperou, naufragado, por pôr os pés em terra. E era assim que ambos sentiam na presença do outro, em terra, fixos e indecifrávelmente seguros. E assim permaneceram por longos minutos, aproveitando cada instante que a eles foi concedido. Eles não sabiam quando outro momento desses viria a acontecer, era raro, mas intensificadamente aproveitado. E seus braços apenas tiveram a iniciativa de desentrelaçar-se, pela urgência que seus olhos tinham de se encontrar. Muita coisa estava escrita ali, muita saudade, muita espera, muito amor demonstrado e guardado por aqueles olhos, para ser demonstrado unicamente um ao outro. E então, entregues a todo amor que sentiam e apagando tudo que havia os atrapalhado, seus lábios foram de encontro ao outro, em um contato digno de um amor imensurável. Havia tanta pureza e ao mesmo tempo tanto desejo naquele lindo casal, que os tornava sempre mais indecifráveis. Acredita-se que nem mesmo eles entendiam o que se passava ali, mas não se preocupavam em tentar, apenas viviam, o que eles chamavam de ‘inevitável’. Pois sabiam e conheciam esse tal amor que rondava os casais, mas eles eram diferentes, eles se amavam além do amor. E aquele foi apenas o primeiro dia de incontáveis felicidades, eles não permitiriam mais que nada os separasse. Naquele dia, aquele homem, foi atrás da menina da sua vida disposto a fazê-la ficar de uma vez por todas ali. Disposto a recuperá-la, a fazer o que fosse preciso para tê-la ao seu lado para sempre. E diferente dos contos, eles tiveram problemas e muitos, mas nada era capaz de destruir o que os unia. Eles sabiam que estavam juntos, no sentido literal da palavra e não existia problema maior do que a insuportável dor de estarem separados.

Aquele dia eles se uniram por um momento chamado, sempre.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A falta, a companhia

“ Ela só queria ter alguém do lado, pra dizer baixinho o nome dela ...“

E essa frase representava exatamente o que se passava naquele universo, mas seu orgulho a impedia de admitir isso. Ela sabia uma coisa, ela tinha essa certeza, a de que não nasceu para ser e ficar sozinha. Ela ama sua companhia, ela ama estar consigo mesma, mas tem necessidade de dividir esse amor tão próprio com alguém ... mas quanto mais ela conhecia as pessoas mais ela se conscientizava do quão incónita ela é, do quão misterioso são a origem de seus sentimentos e do quão difícil era se compreender.
Outra certeza que ela tinha era a de ter o dom e a paixão de ouvir as pessoas, de sentir-se útil, de poder confortar nem que seja só sendo ouvinte, porém até essa certeza estava ficando pesada demais. Pois sempre que ela tentava ajudar seus problemas pareciam maiores e a recordava de ter que resolver os dela.  Aquele pequeno universo estava como um mar revolto, onde a correnteza puxa para baixo e não permite voltar, estava sendo mais forte que ela. Suas forças começavam a corroer seu coração avisando que se esvairia, deixando seu resto sozinho.
Ela tinha medo das renúncias que tinha feito, se perguntava se teria sido justa consigo e com ele, mas sabia que os questionamentos resumiriam-se  apenas nisso, pois já não adiantavam, era tarde demais.
Inevitavelmente ela tinha medo da estrada que se abria a sua frente, de não conseguir atingir o objetivo final e acabar com a dor e o arrependimento nas mãos. Como nunca, aquela menina, precisava fazer valer a pena e ela sabia como fazer isso, só não sabia onde sua força tinha se escondido. Um dia um homem chamado, Refúgio, a disse que ela sabia exatamente o que fazer para se ajudar, pois sempre soube o que faz. E de fato sabia, o desconhecido era apenas que atitude ter com o que fizeram de suas expectativas, afinal ela tinha o controle de seus atos, mas o ato alheio era incontrolável.
As coisas começavam a ficar claras, a desembaçar e novamente ela caia no mesmo ponto e inevitávelmente ainda se encontrava surpresa. Seus pensamentos a diziam: Oh minha menina, tente aceitar, pare de olhar o mundo com tanta pureza, pois há pessoas que procuram essa inocência sem a intenção de valorizá-la. Então pare de achar que pode melhorar tudo com suas boas intenções e entenda que nem todos são como você e por mais estranho que pareça são felizes assim, na satisfação do prazer e no encontro com a solidão. É confortável pra uns, mas insuportável para você, então ame-se mais com a certeza de que tudo dará certo, porque você sabe que dará, você é otimista. Só precisa recordar-se disso.
O pior é que ela sabia que sua fé se renova a cada dia e que ela não se deixaria abalar por mais um dia sequer, ela era assim, sabia o que merecia sua dor e o que era inútil. Esse é um problema inútil, por uma causa inútil, logo sua dor seria deixada na última letra aqui escrita, para durar o tempo que fosse preciso, porém sem estar dentro dela.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

(In)controlável



Digamos assim, nada é o que realmente deveria ser, e isso era absolutamente um problema. Quanto às consequências... Talvez fosse importante, talvez não.
.
Ele está à beira da histeria. Eu não diria que ele está errado, mas não consigo lhe dar razão. Está andando de um lado para o outro, gesticulando muito e falando rápido. Talvez ele tenha medo de perder o controle e desabar. Aposto que é isso que ele gostaria. Tenho certeza que se ele pudesse pegar as palavras com suas mãos rápidas, ele as faria entrar na minha cabeça à força. Eu tenho vontade de lhe dizer para desistir, então eu me lembro de que já disse isso e que ele ainda não desistiu.
.
Eu desisti.
.
Eu já não o escuto. É complicado ignorar o barulho que vem de fora. É como estar preso no trânsito e com o rádio quebrado. Estou tentando ignorar e já nem sei há quanto tempo. Não me importa quantas vezes ele venha, eu simplesmente não consigo respirar de novo. Metaforicamente falando, eu estou sufocando. Não, já sufoquei. E é isso que ele não entende. Sou uma mulher que se afagou.
Em alguns momentos eu queria lhe dizer que me esquecesse, que seguisse com sua vida, que se casasse e fizesse lindos e revoltados filhos. Mas antes de mais nada, sou egoísta. Cheguei a essa conclusão em uma noite de poesias e violão.
Ele deu um grito, uma vogal ainda ressoa da palavra perdida. Está tentando recuperar minha atenção. Esse homem, que um dia foi o homem da minha vida, ele sabe que eu não o escuto. Talvez não seja eu o egoísta. Ele está na minha frente, olhando nos meus olhos. Eu sei que ele está usando palavras doces tentando me incentivar, deve ter lido novos livros de autoajuda noite passada. Será que ele tem certeza que sou eu que preciso de ajuda, ou será que na calada da noite, encostado em sua cabeceira com seu abajur ligado, tentando achar as palavras certas, será que não é ele que está tentando se salvar? Será que eu poderia ser a ponte para esse homem ser salvo ? Se pelo menos fosse tão simples.
Mais uma vez ele me olha com esses olhos frustrados, uma nuvem de desespero mancha seu semblante normalmente tão pacífico. Acho que ele vai desistir, tenho quase certeza de que ela finalmente encontrou seu limite. De alguma forma eu quase me sinto aliviada, mas em alguns momentos, em uma fração de segundos, eu me sinto desesperada e um tanto decepcionada. Haviam me alertado desse risco, ou dessa consequência. Em algum momento as pessoas se cansam de tentar ajudar, elas se cansam de não conseguir ajudar, e principalmente, elas se cansam de serem sempre afastadas. Não é como se eu me importasse. Não é como se qualquer coisa importasse.
Ele está no banheiro. Eu escuto a torneira ligada. Posso até imaginá-lo se olhando no espelho tentando encontrar a coragem, tentando se encontrar. Ele tem uma decisão a tomar. Não quero tentar imaginar o que ele vai fazer, mas sei que quando aquela porta se abrir algo vai acontecer. Ele pode continuar tentando ser o bom moço que sempre foi e se machucar um pouco mais, ou ele pode ir embora, deixar a chave para trás, deixar essa história tão cansativa para trás... Ele pode me deixar para trás. E eu só consigo pensar que isso deveria importar mais do que importa.
Ele chorou.
Eu gostaria que as coisas fossem diferentes. Eu gostaria de poder reconfortá-lo e lhe dizer que tudo vai ficar bem. Gostaria de caber nos seus sonhos e ser a mulher certa. Pode parecer idiota, mas eu gostaria mesmo. Ao invés disso, eu tomei uma decisão. Uma decisão que muda tudo.
Ele parece não saber mais o que dizer, mas continua aqui. Ele não sabe que tudo vai mudar, e me pergunto o quanto ele vai me odiar por isso. Minha decisão está tomada, e em meses essa é a primeira vez que eu me sinto decidida. Isso quase me revigora. Mas também me dá um certo medo.
Tenho vontade de lhe dizer: vou embora, amor.  Mas não acho que ele entenderia, não acho que alguém no mundo entenderia. Vou abandoná-lo. A decisão cresceu como fogos de artifício estourando aqui dentro com estalos que só eu escuto. Eles me deixam surda para as palavras dele, me deixam surda para todo o resto. Não acho que minha intenção seja fugir, por mais estranho que pareça acho que minha intenção é sobreviver. Será que faz algum sentido? Não né ?
Eu o olho agora. Não apenas olho, como também o vejo. Estou me despedindo, tenho certeza. Não sei quando o verei de novo, não sei quando e se voltarei, sequer sei para onde vou. Mas vou. E deixá-lo é minha forma de dizer amor. É minha forma de cuidar dele, de dizer que o amor e de fazer o melhor por nós dois.
Sou egoísta e eu sabia.

                                                            
"Diga a verdade ao menos uma vez na vida, você se apaixonou pelos meus erros "  (Humberto Gessinger )

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Despertar

Foi apenas uma promessa, que ela nunca pensou ser tão difiícil cumprir. Ela prometeu, a partir daquele dia, não derramar nenhuma lágrima por ele. Ele, o homem que por um tempo foi o motivo de tantos, arrisco dizer, melhores sorrisos, mas que ela não permitiria que fosse o motivo da falta deles. Ela sabia que não podia entregar sua felicidade nas mãos de um cara, que sua felicidade é dela, única e somente. Mas o encanto que cercava a história dos dois fazia com que ela cogitasse a idéia de que se ele não fosse o motivo, ele com certeza tornava sua felicidade muito mais completa e gratificante, como se com ele, realmente fizesse sentido. No fundo ela sempre soube o que iria acontecer, por mais que ele defendesse a teoria do otimismo, ela sabia o final da história, mas se permitia ceder aos encantos, fechar os olhos e fingir que acreditava na possibilidade de dar certo, quem sabe seu querer se tornava o bastante. No fundo ela queria aquilo, queria que ele fosse tudo que ela procurava, ela nunca procurou alguém perfeito, pelo contrário. Essa menina é apaixonada por imperfeições, ela acredita veemente que é isso que une as pessoas ... e era isso que queria encontrar, seu homem cheio de imperfeições, perfeitas para ela. E ela cruzava os dedos, como em suas brincadeiras de criança, rezando para que desse certo, mesmo com tudo que havia contra. Só que diferente dos contos, esse encanto acabou antes da meia-noite. Antes que ela pudesse ouvir o badalar do relógio, dançar a última música, saborear o último sorriso, acabou antes que ela pudesse sentir ser real. Tola, ela pensou e recriminou-se. Ela sabia que não estava sendo cruel, nem injusta. Era ciente de todos os seus atos, de cada erro, cada palavra com birra que foi dita, mas o punhal fincado sob o tal amor que sentia, não a permitia ter nenhum outro sentimento diferente de mágoa, repulsa. Ela sabia que por mais erros que ela tivesse cometido, isso ela nunca seria capaz. E mais uma vez se chamou de tola, por pensar que ele seria como ela, fiel, não só a compromissos pré-estabelecidos, mas ao sentimento que por escolha ou não, unia os dois. Seu quadro, que ela sempre fez questão de pincelar, começava a se desfazer, a ficar escuro, sombrio. E por mais que ela pensasse, não conseguia achar que ele estava errado. Eles não se pertenciam, não deviam explicações, não tinham nada. O erro foi dela, ela errou. Errou por esperar demais, por criar expectativas que ela se prometeu não criar, por pensar que mesmo sem haver nada, eles tinham o mais importante, o amor e que isso seria para ele, assim como para ela, o mais importante. Mas novamente, tola, ela começava a achar que era a única que vivia nesse mundo, que construiu achando que alguém cogitaria habitá-lo.
Se condenava pela dor que sentia, pois sabia que não havia qualquer traição, a não ser a de si mesma. Se martirizava por ter se traído, por ter permitido que um homem ferisse a cúpula que protegia seus sonhos, seus tão puros e inocentes sonhos. Mas naquele momento, ela se olhou no espelho, bem no fundo de seus olhos e prometeu-se  que jamais permitiria que alguém a fizesse perder a fé na pureza dos sentimentos que ela preservava. Prometeu, dessa vez ciente da dificuldade, mas colocando toda sua força como escudo, pois sua cúpula já havia sido furada. Por fim ela derramou uma lágrima, a mais rápida e ousada que por sua face já havia rolado. Aquela era uma demonstração de tantas outras que em seu peito habitavam, mas foi a única que não aguentou permanecer. As outras se continham, pois já haviam entendido que eram bem mais valiosas que aquilo. Ainda de frente ao espelho aquela menina disse uma única frase, como se seu tão dito refúgio pudesse ouvi-las, ela disse: Não foi só um beijo. As decisões que cercavam aquela pequena e imatura mente, de uma menina sonhadora demais, não era atormentada pelo ato de um beijo, mas pelo que ele representava. Antes ele nunca tivesse dito que a amava, pelo menos a existência daquele beijo não a doeria tanto. Ele a fez acreditar que era verdadeiro, mas em segundos a fez questionar cada palavra que saira por seus lábios. E apesar de não ser uma sonhadora ciumenta, ela estava cansada de imaginar sequer um beijo dele que não fosse dirigido somente a ela, a dor que isso a causava era grande e exaustiva demais. Então, decidida a recomeçar sozinha,  aquele pequeno ponto de insegurança e medo, foi dormir. Como uma forma de fuga da realidade que então, a machucava demais.

"O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz."

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Renúncia

Estou desentendida, já não sei mais sobre meus pensamentos, tudo ficou incerto demais ... como sempre.  Todo mundo quer opinar e dentre tantas opiniões me assusta o fato de eu concordar com boa parte delas, mas não querer fazer nada em relação a isso. Me cansa pensar em tudo que tem por vir e novos problemas definitivamente não é algo que eu preciso agora. Não dá para me preocupar com meus sentimentos, não dá para sofrer agora, essa dor vai ter que esperar. Eu tentei, como eu tentei fazer com que nada chegasse a esse ponto, com que as coisas não tomassem essa proporção, mas já que tomou, vou enfrentar tudo isso, tomar a decisão necessária e não me abalar com as consequências. Porque eu quero calma, paz, tranquilidade, não só quero, como preciso disso. 2011 é um ano decisivo da minha vida, é o começo da minha busca por um sonho, minha vida se resumirá em antes e depois deste ano, eu quero que seja assim e vou precisar ser egoísta para isso. Eu vou vetar o que for preciso na minha vida para que nada venha a me atrapalhar. O tempo todo eu sempre pensei nos outros, nos sentimentos daqueles que eram importantes para mim, pensei tanto que acabei me esquecendo, privando meus sentimentos de crescer, me privando de crescer, porque eu estava preocupada demais em ajudar os outros. Mas e eu ? Quem vai cuidar de mim ? Não vou destinar a ninguém esse cargo. É claro, quem o quiser será muito bem vindo, mas primeiramente quem vai cuidar de mim sou eu. Chega, chega, chega, está na hora de me colocar em primeiro lugar. Sei que muitos me criticarão, as pessoas têm muita facilidade em fazer isso, muitos abrirão a boca para dizer que sou egoísta. Mas honestamente falando, eu não me importo, sou e estou consciente do que faço. Sei perfeitamente que estarão certos, estarei sendo egoísta, mas, como poucas vezes, não iriei achar isso um defeito ou alguma forma de egocentrismo exagerado. Não, eu apenas colocarei os meus objetivos a frente com a consicência de que eu sou a única que posso fazer realmente algo para alcançá-lo, tudo que eu preciso para conseguir essa conquista está em minhas mãos, depende de mim. Eu sei que têm muitas pessoas que torcem para que eu consiga, sei que muitos irão pedir a Deus por mim, mas também sei que eles torcem pois acreditam no meu potencial e eu prometo não decepcioná-los. Até hoje eu sempre vivi espelhada no lema de que não preciso provar nada a ninguém, mas hoje eu estou mais do que certa que preciso, só que preciso provar a mim. Eu preciso me provar que consigo, que posso e que vou. Eu fecho os olhos e vejo tantas escolhas e decisões que tenho que tomar, decisões que gritam de urgência e quando abro os olhos meu coração me ensurdece pedindo para que eu não faça isso, grita avisando que vou me machucar, que vai doer e que vou ferir pessoas que amo. Mas, eeii, coração? Eu te dou férias esse ano. Isso mesmo, férias, você não vai mais precisar se preocupar comigo, pode descansar, eu sei o quanto você precisa disso, o quanto eu cansei você ano passado. Sei como 2010 foi difícil, então vai, descanse e me deixei descansar também, mas só uma coisa ? Prometa que vai sem deixar vazio ? Sem me causar nenhuma dor ? Eu preciso do lugar ocupado por você em total silêncio e depois quando você voltar, pode fazer o estrago que precisar, eu prometo que aguento. 

Parece que posso prever quantas desculpas terei que pedir, quanta coisa terei que ouvir e ficar calada, mas eu não sou tão forte, minha estrutura não aguenta tanta turbulência ao mesmo tempo. Preciso da minha vida pessoal em ‘off’ por um tempo. Eu sei que deveria ter pensado nisso antes de deixar tudo chegar onde chegou ... é, eu juro que tentei, mas não consegui. Acho que deixei meu coração falar por mim uma última vez e acabei me perdendo, mas o estrago que vai causar a mim é o que menos me importa no momento, eu me viro, tive que aprender a me virar, aprendo de novo. Eu apenas não queria causar dor a ninguém, magoar ninguém com meu egoísmo. Mas como diz a música: cada escolha, uma renúncia, isso é a vida. Eu estou tendo que fazer minhas renúncias, justas ou não, e elas sempre, sempre são doloridas, pelo menos na minha vida, isso tornou-se uma regra. Meu egoísmo me traz uma das sensações que menos gosto de sentir, a solidão. Isso, de me sentir sozinha, me apavora. Entre meus muito mais erros que acertos eu vou tentando desvendar esse campo minado, com os olhos vendados, mas usando o pouco que sei e toda a minha fé para chegar ao destino final. Quero finalizar esse post com apenas uma palavra, que sei que será muito usada por mim durante um tempo, DESCULPA.