terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

In(evitável)

Em um certo dia, quando as melodias soavam doces e singelas,  a menina foi surpreendida pelo toque protetor e pela emoção de sua voz preferida, a voz que tantas vezes embalou sua noites durante seus sonhos. Como se não fosse real, ele estava ali para ela, por ela e nada podia mudar isso. As palavras que saiam pela boca que, por tantas vezes seus olhos adimiraram, pareciam perfeitos arranjos, milimetricamente feitos para agradar seus ouvidos e acalentar seu, momentaneamente, frio coração. Sua mente não era capaz de organizar uma frase sequer, logo sua boca nada conseguia dizer. Mas por seus olhos caiam lágrimas repletas de sentido, deixando explítico todo amor e felicidade que ela pensou ser
negada. Em instantes, a frágil menina, caminhou com a leveza de uma pétala levada por um forte vento, não perdeu o encanto, mas mostrou que tinha pressa. Ela caminhou em direção ao lugar para o qual ela foi destinada ao nascer, aqueles braços, suas peles se tocaram provocando nela a sensação de topor, de alívio. E ele a abraçou como se fosse a última coisa que faria na vida, com a intensidade de quem esperou, naufragado, por pôr os pés em terra. E era assim que ambos sentiam na presença do outro, em terra, fixos e indecifrávelmente seguros. E assim permaneceram por longos minutos, aproveitando cada instante que a eles foi concedido. Eles não sabiam quando outro momento desses viria a acontecer, era raro, mas intensificadamente aproveitado. E seus braços apenas tiveram a iniciativa de desentrelaçar-se, pela urgência que seus olhos tinham de se encontrar. Muita coisa estava escrita ali, muita saudade, muita espera, muito amor demonstrado e guardado por aqueles olhos, para ser demonstrado unicamente um ao outro. E então, entregues a todo amor que sentiam e apagando tudo que havia os atrapalhado, seus lábios foram de encontro ao outro, em um contato digno de um amor imensurável. Havia tanta pureza e ao mesmo tempo tanto desejo naquele lindo casal, que os tornava sempre mais indecifráveis. Acredita-se que nem mesmo eles entendiam o que se passava ali, mas não se preocupavam em tentar, apenas viviam, o que eles chamavam de ‘inevitável’. Pois sabiam e conheciam esse tal amor que rondava os casais, mas eles eram diferentes, eles se amavam além do amor. E aquele foi apenas o primeiro dia de incontáveis felicidades, eles não permitiriam mais que nada os separasse. Naquele dia, aquele homem, foi atrás da menina da sua vida disposto a fazê-la ficar de uma vez por todas ali. Disposto a recuperá-la, a fazer o que fosse preciso para tê-la ao seu lado para sempre. E diferente dos contos, eles tiveram problemas e muitos, mas nada era capaz de destruir o que os unia. Eles sabiam que estavam juntos, no sentido literal da palavra e não existia problema maior do que a insuportável dor de estarem separados.

Aquele dia eles se uniram por um momento chamado, sempre.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A falta, a companhia

“ Ela só queria ter alguém do lado, pra dizer baixinho o nome dela ...“

E essa frase representava exatamente o que se passava naquele universo, mas seu orgulho a impedia de admitir isso. Ela sabia uma coisa, ela tinha essa certeza, a de que não nasceu para ser e ficar sozinha. Ela ama sua companhia, ela ama estar consigo mesma, mas tem necessidade de dividir esse amor tão próprio com alguém ... mas quanto mais ela conhecia as pessoas mais ela se conscientizava do quão incónita ela é, do quão misterioso são a origem de seus sentimentos e do quão difícil era se compreender.
Outra certeza que ela tinha era a de ter o dom e a paixão de ouvir as pessoas, de sentir-se útil, de poder confortar nem que seja só sendo ouvinte, porém até essa certeza estava ficando pesada demais. Pois sempre que ela tentava ajudar seus problemas pareciam maiores e a recordava de ter que resolver os dela.  Aquele pequeno universo estava como um mar revolto, onde a correnteza puxa para baixo e não permite voltar, estava sendo mais forte que ela. Suas forças começavam a corroer seu coração avisando que se esvairia, deixando seu resto sozinho.
Ela tinha medo das renúncias que tinha feito, se perguntava se teria sido justa consigo e com ele, mas sabia que os questionamentos resumiriam-se  apenas nisso, pois já não adiantavam, era tarde demais.
Inevitavelmente ela tinha medo da estrada que se abria a sua frente, de não conseguir atingir o objetivo final e acabar com a dor e o arrependimento nas mãos. Como nunca, aquela menina, precisava fazer valer a pena e ela sabia como fazer isso, só não sabia onde sua força tinha se escondido. Um dia um homem chamado, Refúgio, a disse que ela sabia exatamente o que fazer para se ajudar, pois sempre soube o que faz. E de fato sabia, o desconhecido era apenas que atitude ter com o que fizeram de suas expectativas, afinal ela tinha o controle de seus atos, mas o ato alheio era incontrolável.
As coisas começavam a ficar claras, a desembaçar e novamente ela caia no mesmo ponto e inevitávelmente ainda se encontrava surpresa. Seus pensamentos a diziam: Oh minha menina, tente aceitar, pare de olhar o mundo com tanta pureza, pois há pessoas que procuram essa inocência sem a intenção de valorizá-la. Então pare de achar que pode melhorar tudo com suas boas intenções e entenda que nem todos são como você e por mais estranho que pareça são felizes assim, na satisfação do prazer e no encontro com a solidão. É confortável pra uns, mas insuportável para você, então ame-se mais com a certeza de que tudo dará certo, porque você sabe que dará, você é otimista. Só precisa recordar-se disso.
O pior é que ela sabia que sua fé se renova a cada dia e que ela não se deixaria abalar por mais um dia sequer, ela era assim, sabia o que merecia sua dor e o que era inútil. Esse é um problema inútil, por uma causa inútil, logo sua dor seria deixada na última letra aqui escrita, para durar o tempo que fosse preciso, porém sem estar dentro dela.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

(In)controlável



Digamos assim, nada é o que realmente deveria ser, e isso era absolutamente um problema. Quanto às consequências... Talvez fosse importante, talvez não.
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Ele está à beira da histeria. Eu não diria que ele está errado, mas não consigo lhe dar razão. Está andando de um lado para o outro, gesticulando muito e falando rápido. Talvez ele tenha medo de perder o controle e desabar. Aposto que é isso que ele gostaria. Tenho certeza que se ele pudesse pegar as palavras com suas mãos rápidas, ele as faria entrar na minha cabeça à força. Eu tenho vontade de lhe dizer para desistir, então eu me lembro de que já disse isso e que ele ainda não desistiu.
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Eu desisti.
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Eu já não o escuto. É complicado ignorar o barulho que vem de fora. É como estar preso no trânsito e com o rádio quebrado. Estou tentando ignorar e já nem sei há quanto tempo. Não me importa quantas vezes ele venha, eu simplesmente não consigo respirar de novo. Metaforicamente falando, eu estou sufocando. Não, já sufoquei. E é isso que ele não entende. Sou uma mulher que se afagou.
Em alguns momentos eu queria lhe dizer que me esquecesse, que seguisse com sua vida, que se casasse e fizesse lindos e revoltados filhos. Mas antes de mais nada, sou egoísta. Cheguei a essa conclusão em uma noite de poesias e violão.
Ele deu um grito, uma vogal ainda ressoa da palavra perdida. Está tentando recuperar minha atenção. Esse homem, que um dia foi o homem da minha vida, ele sabe que eu não o escuto. Talvez não seja eu o egoísta. Ele está na minha frente, olhando nos meus olhos. Eu sei que ele está usando palavras doces tentando me incentivar, deve ter lido novos livros de autoajuda noite passada. Será que ele tem certeza que sou eu que preciso de ajuda, ou será que na calada da noite, encostado em sua cabeceira com seu abajur ligado, tentando achar as palavras certas, será que não é ele que está tentando se salvar? Será que eu poderia ser a ponte para esse homem ser salvo ? Se pelo menos fosse tão simples.
Mais uma vez ele me olha com esses olhos frustrados, uma nuvem de desespero mancha seu semblante normalmente tão pacífico. Acho que ele vai desistir, tenho quase certeza de que ela finalmente encontrou seu limite. De alguma forma eu quase me sinto aliviada, mas em alguns momentos, em uma fração de segundos, eu me sinto desesperada e um tanto decepcionada. Haviam me alertado desse risco, ou dessa consequência. Em algum momento as pessoas se cansam de tentar ajudar, elas se cansam de não conseguir ajudar, e principalmente, elas se cansam de serem sempre afastadas. Não é como se eu me importasse. Não é como se qualquer coisa importasse.
Ele está no banheiro. Eu escuto a torneira ligada. Posso até imaginá-lo se olhando no espelho tentando encontrar a coragem, tentando se encontrar. Ele tem uma decisão a tomar. Não quero tentar imaginar o que ele vai fazer, mas sei que quando aquela porta se abrir algo vai acontecer. Ele pode continuar tentando ser o bom moço que sempre foi e se machucar um pouco mais, ou ele pode ir embora, deixar a chave para trás, deixar essa história tão cansativa para trás... Ele pode me deixar para trás. E eu só consigo pensar que isso deveria importar mais do que importa.
Ele chorou.
Eu gostaria que as coisas fossem diferentes. Eu gostaria de poder reconfortá-lo e lhe dizer que tudo vai ficar bem. Gostaria de caber nos seus sonhos e ser a mulher certa. Pode parecer idiota, mas eu gostaria mesmo. Ao invés disso, eu tomei uma decisão. Uma decisão que muda tudo.
Ele parece não saber mais o que dizer, mas continua aqui. Ele não sabe que tudo vai mudar, e me pergunto o quanto ele vai me odiar por isso. Minha decisão está tomada, e em meses essa é a primeira vez que eu me sinto decidida. Isso quase me revigora. Mas também me dá um certo medo.
Tenho vontade de lhe dizer: vou embora, amor.  Mas não acho que ele entenderia, não acho que alguém no mundo entenderia. Vou abandoná-lo. A decisão cresceu como fogos de artifício estourando aqui dentro com estalos que só eu escuto. Eles me deixam surda para as palavras dele, me deixam surda para todo o resto. Não acho que minha intenção seja fugir, por mais estranho que pareça acho que minha intenção é sobreviver. Será que faz algum sentido? Não né ?
Eu o olho agora. Não apenas olho, como também o vejo. Estou me despedindo, tenho certeza. Não sei quando o verei de novo, não sei quando e se voltarei, sequer sei para onde vou. Mas vou. E deixá-lo é minha forma de dizer amor. É minha forma de cuidar dele, de dizer que o amor e de fazer o melhor por nós dois.
Sou egoísta e eu sabia.

                                                            
"Diga a verdade ao menos uma vez na vida, você se apaixonou pelos meus erros "  (Humberto Gessinger )